Em rápido encontro com o papa Francisco no Vaticano na manhã desta
quarta-feira (19), o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), pediu que
o pontífice reconsidere a decisão de não vir ao Brasil para a
comemoração dos 300 anos da aparição de Nossa Senhora Aparecida.
"Difícil, mas espiritualmente estou com você", disse o papa a Doria, que
esperou uma hora e meia pela audiência.
Nesta semana,
Francisco enviou uma carta ao presidente Michel Temer (PMDB) dizendo
que recusaria o convite de vir ao Brasil em outubro e cita a crise no
país como um dos motivos. Em 2013, durante visita ao Brasil em função da
Jornada Mundial da Juventude, o papa havia prometido retornar ao
Santuário Nacional, em Aparecida (SP), para a festa de 2017.
O prefeito paulistano --que estava acompanhado de sua
mulher, Bia Doria, e sua filha Carolina-- criticou o Vaticano.
"Acredito, sinceramente, que a orientação dada ao papa Francisco --um
homem bom, de boa natureza, um homem sereno, equilibrado-- talvez não
tenha sido a melhor ao dizer a ele que não deveria considerar a hipótese
de estar no Brasil em uma data tão importante", disse a jornalistas
após o encontro.
Divulgação
O prefeito paulistano encontrou-se com o pontífice nesta quarta no Vaticano
"Eu entendo que talvez --não quero aqui fazer juízo, nem me cabe-- não
tenha havido uma orientação adequada ao santo padre porque não estar
presente numa data tão importante quanto essa não me parece, talvez, a
melhor medida. Mas quem sou eu para julgar o papa?", comentou Doria.
O prefeito disse considerar Francisco "um revolucionador". "Vem
fazendo, à frente de seu papado, mudanças e transformações para
modernizar a Igreja Católica", comenta o prefeito. "Talvez um dos
maiores nomes do século e uma figura papal que vai deixar o seu nome
registrado para toda a história".
Em vídeo divulgado pela assessoria de imprensa da prefeitura, Doria
aparece dando uma bandeira do Brasil ao papa. Em entrevista, o tucano
disse que também entregou uma camisa da seleção brasileira assinada por
todos os jogadores e um exemplar do livro "Genesis" do fotógrafo
brasileiro Sebastião Salgado.
Crise
A carta do papa a Temer foi uma resposta a um convite enviado no fim de
2016 pelo governo brasileiro."Sei bem que a crise que o país enfrenta
não é de simples solução, uma vez que tem raízes
sócio-político-econômicas, e não corresponde à Igreja nem ao papa dar
uma receita concreta para resolver algo tão complexo", escreveu o
pontífice.
"Porém não posso deixar de pensar em tantas pessoas, sobretudo nos mais
pobres, que muitas vezes se veem completamente abandonados e costumam
ser aqueles que pagam o preço mais amargo e dilacerante de algumas
soluções fáceis e superficiais para crises que vão muito além da esfera
meramente financeira", acrescentou Francisco.
Para 2017, Francisco já tem viagens programadas ao Egito, a Fátima, em
Portugal, à Colômbia, à Índia, a Bangladesh e ao continente africano.
"Humildade é algo que não falta a um papa. Especialmente ao papa
Francisco. Voltar atrás é prova de grandeza. E espero, sinceramente, que
o papa possa revisar essa decisão e ir ao Brasil no próximo mês de
outubro", disse Doria após o encontro.
Lava Jato
Na Itália, onde foi realizada a Operação "Mãos Limpas", que inspirou a
"Lava Jato", Doria disse que ela ajudará o Brasil "a ser um país
melhor". "É um momento de renovação, eu diria, da questão da Justiça e
de fazer Justiça, de apurar o que precisa ser apurado, garantir o
direito de defesa a quem está acusado, a quem está indiciado".
Notório crítico do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT,
o prefeito diz que operação faz o Brasil ser passado a limpo. "Acho que
isso vem acontecendo, vem ocorrendo, O Brasil já sofreu demais,
especialmente nos últimos 13 anos", em referência ao período em que o
país foi governado por Lula e pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT),
entre 2003 e 2016.
Tido como provável candidato à Presidência da República pelo PSDB em
2018 após a lista de Fachin atingir os três presidenciáveis tucanos,
Doria desconversou sobre retornar a Roma como presidente. "Eu pretendo
voltar, sim, para cumprimentar o papa Francisco, pedir sua bênção como
cidadão, como brasileiro, como católico"